Sobre ansiedades ridículas e o mundo real

Leandro Fernandes
3 min readAug 22, 2015

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Eu queria poder dizer que sou uma pessoa madura e que sabe lidar com as próprias ansiedades. Mais que isso: queria poder pelo menos dizer que as coisas que me causam tanta ansiedade são aquilo que compõe as vidas “adultas” dos outros: “será que vou perder meu emprego?”, “vou dar conta da faculdade?”, “escolhi o curso certo?”, “será que vou morrer solteiro?”. Não que algumas dessas coisas não me causem preocupação, mas a ansiedade mesmo, de me deixar na cama girando sem sono, vem de coisas muito específicas e eu consigo imaginar a cara de muitos amigos meus ao saberem disso. E, sim, eu me envergonho de ficar num sofrimento ridículo enquanto as pessoas sofrem por motivos de verdade por aí, mas, ei, eu estou admitindo um privilégio, já é um começo.

Há uns anos eu lembro como se fosse hoje do jeito que meu coração estava acelerado durante o dia todo. É que eu sabia que, naquele dia, eu ia assistir o final de Lost. A série tinha me acompanhado (eu encaro dessa forma, e não como se eu tivesse acompanhado a ela) durante seis anos e aqueles mistérios e personagens meio que faziam parte de mim mesmo. Passei o dia roendo as unhas no trabalho e falando pra todos como eu estava louco de ansiedade.

Alguns anos depois estava eu, depois de redescobrir as maravilhas do videogame, apaixonado por Mass Effect. Tinha jogado os dois primeiros, criado um super vínculo com os personagens e com o universo e de repente estava tudo pra terminar, com o lançamento de Mass Effect 3. Foi a primeira vez na minha vida que eu passei por essa angústia de esperar o lançamento de um jogo (é que eu passei a maior parte da adolescência jogando coisas mais antigas e/ou que não eram exatamente lançamentos). Eu quase enlouqueci vendo outros vendedores entregando o jogo antes da data de lançamento enquanto o meu não vinha nunca. Mais unhas roídas.

No ano passado, foi lançado Dragon Age: Inquisition e eu já estava um pouquinho mais calejado com essa espera, mas não adiantou muito: cheguei em casa à meia noite do dia do lançamento esperando que pudesse pelo menos criar meu personagem, mas o jogo só seria liberado às 3 da manhã (maldito fuso horário). No dia seguinte acordei 1h mais cedo que de costume só para entrar no jogo e criar um personagem.

Mas parece que por mais que eu me endureça e faça coisas pra me distrair dessa ansiedade/angústia horrível, não adianta muito, a situação fica terrível nas semanas finais. Falta menos de uma semana (espero) para ter o meu Metal Gear Solid V: The Phantom Pain em mãos e a sensação que eu tenho só tem como ser descrita com a seguinte frase:

Se eu pudesse entrar num coma e só acordar na sexta-feira, faria isso.

A ansiedade está consumindo meus dias, minha atenção, meu sono, minha fome, minha libido. Eu nunca leio spoilers, fujo como se fosse uma doença contagiosa, mas nesse caso eu simplesmente não consegui me controlar. Da mesma maneira que passei tardes inteiras vendo vídeos de gameplay do jogo, me peguei ontem lendo tudo que podia a respeito dos vazamentos. Isso destrói a experiência narrativa que eu tanto valorizo, mas quem disse que eu conseguia dizer isso pra mim?

Então lá fui eu, lendo sobre os plot twists e personagens e tudo. Agora, além de uma ansiedade triplicada (e que certamente vai piorar ao longo da semana, a ponto de me deixar inerte na quinta e sexta-feira, sem conseguir pensar ou fazer nada), está uma culpa por ter lido os malditos spoilers.

Eu realmente queria ser o tipo de pessoa que está super de boa esperando a data e que não criou hype. Queria ser o tipo de pessoa que está apaixonada o suficiente pelo mundo real a ponto de não se envolver tanto com a ficção. Mas hoje eu parei pra ler os comentários de uma notícia no Facebook e lembrei, muito claramente, do motivo de querer entrar na pele do Big Boss e me perder ali. É que esse mundo aqui já deu.

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Leandro Fernandes

Repórter, UX writer, mestre e jogador de RPG, roteirista e escritor, assisto mais de cinquenta séries e não me arrependo.