Opção sexual

Leandro Fernandes
2 min readFeb 13, 2018

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A gente ouve isso e automaticamente já corrige. “É orientação”. Porque a gente não escolhe. Em nenhum momento dizemos “vou ser gay, deve ser divertido”, “vou gostar de homem e mulher pra ampliar meus horizontes”, enfim. Não é uma escolha o que a gente é.

Eu penso nisso o tempo todo e já escrevi sobre isso, já gritei sobre isso por aí, mas de qualquer maneira, hoje eu assisti um filme bem despretensiosamente na Netflix, um indie australiano chamado Emo The Musical. O filme é uma sátira do que é ser um ser humano na nossa sociedade, especialmente um adolescente, e obviamente fala da identidade, da eterna contradição entre o que a gente quer ser o que a gente é.

Em um momento do filme, o menino gay reprimido religioso e o cara que ele gosta cantam isso aqui e a música me pegou de um jeito que eu não esperava. (tem spoilers, ainda mais por ter sido pra mim a cena central do filme, então cuidado)

Tem um humor com algo super delicado, mas ao mesmo tempo fala exatamente o que é estar fora da norma e aceitar isso. “Se ser gay é isso, então que seja”. Eu não tive opção nenhuma quando me apaixonei pelo primeiro homem, aos 10 anos de idade, mas eu suspeito que se me dessem a opção, eu escolheria isso de novo. A opção que eu tive foi de aceitar e abraçar isso em vez de viver reprimido, de engolir o que eu sentia e viver com isso entalado na garganta, ou fazendo o que eu queria por debaixo dos panos enquanto vivia uma vida alternativa infeliz.

Quando alguém diz que a gente escolheu, no fundo eu acho que eles querem dizer isso. O que eles gostariam é que a gente vivesse reprimido, que o sexo que a gente fizesse fosse feito nos banheirões (e parte deles participaria), que a gente só desse as mãos dentro do cinema, que a gente apresentasse os namorados como amigo pra família. Por isso quando a gente aceita e diz “se meu amor por você é ser queimado numa fogueira, então eu mesmo acendo o fósforo”, isso incomoda tanto.

Sei lá, só queria escrever isso mesmo.

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Leandro Fernandes

Repórter, UX writer, mestre e jogador de RPG, roteirista e escritor, assisto mais de cinquenta séries e não me arrependo.